[:pb]Influenciadas por um movimento maior de ocupação dos urbanos encabeçado pelo Ocupe Estelita e por um interesse arquitetônico, as cineastas Aline Van der Linden e Marina Maciel tiveram seu curta Entre andares, um resgate memorialístico do negligenciado mas sobrevivente Edifício AIP localizado no centro do Recife, exibido pela primeira vez no fechamento do Fincar sendo sem dúvida um dos destaques da mostra de curtas. O prédio, onde antes funcionava um cinema, restaurante, biblioteca e moradia residencial hoje se encontra em estado de abandono resistindo graças à ajuda de poucos funcionários, moradores e lojistas como Ana Lourdes, Seu Pedro e Cecília Araújo.
A partir dos depoimentos dos personagens sobre suas memórias coletivas no edifício, suas vivências e experiências somos transportados a um passado que não quer e não deve ser esquecido. “Quem não era artista, lá virava.” diz uma das reminiscentes, falando da mágica do local que possibilitava um espaço de efervescência cultural. Os planos fotográficos que apresentam a deterioração do prédio e suas marcas de tempo, sobretudo com suas vistas magníficas da cidade seguem uma forma geométrica que se liga ao estilo arquitetônico modernista do prédio. Tudo é visto a partir da perspectiva interna do edifício, protagonista do filme, o que cria um clima intimista e poético. O que fica de mais simbólico é a tristeza e o vazio que vive o AIP. A escolha por esse prédio específico nos proporciona uma discussão mais ampla sobre o processo gentrificação que Recife tem despontado como porta-voz. Não à toa, As torres gêmeas, arranha-céus gigantescos, construídas num local de referência histórica da cidade representam toda a especulação imobiliária, os contrastes espaciais e o desrespeito à paisagem urbana que tem sido o modelo de “desenvolvimento” viabilizado pelo Governo priorizando a exclusão social, agora também compõem violentamente uma das vistas do AIP.
Assim como o cinema São Luiz hoje após muita pressão pública conseguiu ser tombado como patrimônio histórico, sendo um dos poucos cinemas da cidade com preços de ingressos acessíveis e com exibição de programação alternativa, espera-se que outros cinemas como o CINE AIP, o Cinema do Parque o Cine Olinda também tenham o mesmo destino. No caso do AIP, o potencial de ocupação é ainda maior pois além do cinema, ainda existem restaurante e biblioteca abandonados. Dessa forma, a iniciativa das cineastas na criação de Entre andares com as poucas pessoas que resistem junto ao prédio é a de instigar uma reflexão sobre a ocupação dos espaços urbanos e sobretudo a ação civil diante do descaso público, que no caso do Estelita tem sido a única barreira encontrada pelas empreiteiras.
“O edifício AIP resiste.” [:]