PAREDE BRANCA, SILÊNCIO. // crítica de Thayná Torella

[:pb]

retratosssss

 

PAREDE BRANCA, SILÊNCIO. Reinaldo sai do quadro.

O público do I Festival Internacional de Cinema de Realizadoras no Recife, perdeu o fôlego, parou de respirar neste exato momento.

Sentado, está Reinaldo Guarany que é um dos últimos a falar no filme de Anita Leandro. Ele, depois de Maria Auxiliadora, com certeza é um personagem forte no quadro. Sua memória pesa, e a dor – marca também contada por seus companheiros de guerrilha, aparece reforçada nele.

Diferente de seus companheiros, que também relembravam dos episódios em que foram torturados pela ditadura, a dor de Reinaldo segue outro rumo. Pior que perder a própria vida numa ditadura, perder quem se ama, e ter essa morte como lembrança, é imensurável a memória. Não se precisa de fotos para tal, mas se houver algumas, estas relembram a alma, fazem chorar, buscam a dor, mas sustentam a justiça – porque só lembrando para querermos que não aconteça mais.

Anita Leandro, mantém essa memória viva. Seu filme “Retratos de identificação”, trilha caminhos suspensos, talvez inimagináveis para a diretora, e isso me chama atenção no documentário.

A diretora de certa forma desafia a memória de seus “entrevistados”, a partir de uma aproximação, diria eu: nada invasiva, apesar de dolorosa. Ela não faz perguntas, apenas lhes apresenta fotos, e pede para que falem sobre elas.

Maria Auxiliadora, uma das 11 mulheres entre mais 70 homens que foram exilados no Chile, é ponto conector de todo o caminho que Anita traça. Maria Auxiliadora ou Dôra, é vítima cruel de uma tortura que transcendeu sua imagem robusta e forte de mulher de luta. Ela aparece sempre confiante e com a certeza de seu papel ali, na luta armada.

Dôra falando, nos rapta do tempo em que estamos. Parece tudo tão próximo e presente. Ela apenas conta nos vídeos organizados pela diretora de sua experiência de luta, mas os detalhes de tortura a ela, quem conta são seus amigos hoje.

Ela foi impossibilitada de rememorar a própria dor, e sua morte marca sua forte luta contra a própria memória. Ou seria fácil conviver com uma história como a de Dôra, que foi torturada, humilhada e quase morta por militares? Seu corpo aguentou, e sua mente?

Bem, eram poucas mulheres na luta armada, mas eram todas Dôra, tenho certeza. E para além, naquela foto ainda do exilio no Chile dos 70 homens e 11 mulheres, me deu gana. Interesse mesmo, em saber quem eram cada uma daquelas mulheres.

A função do filme também é essa.

Que não exista anistia, e que esses torturadores ainda possam responder por seus crimes.

Que esses nomes, não sejam apagados da memória.

Maria Auxiliadora Barcellos, presente![:]

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